domingo, 22 de maio de 2011

Crônica do tédio exponenciado

(No ônibus, a caminho de casa, parada na entrada da Anchieta há mais de uma hora).

Vejo uma dessas senhoras de idade avançada sentada na poltrona ao lado. É uma dessas mulheres que, embora a gravidade e o tempo sejam impiedosos, acreditam ser eternamente jovens. Não pretendo discutir a questão da mocidade, pois, como dizia algum velhinho do qual não me lembro o nome, cada um tem a idade de seus preconceitos. Apesar do vestido florido e curto, das unhas pintadas de vermelho vivo e da tintura rubra nos cabelos quase perfeitamente alisados, a idade da mulher não se esconde atrás do seu discurso. Ao contrário, enquanto fala, ela - a idade da mulher - desfila e se exibe sem pudor aos nossos olhos... “Ah, os brasileiros”, suspira a velha, digo, senhora do ônibus. Nota mental: é sempre preciso manter a aparência do politicamente correto. Parada há mais de uma hora na entrada da Anchieta, a senhora brada e clama a revolução contra o inimigo por hora oculto. Alguém diz “foi acidente no quilômetro 48” e a velha, digo, senhora aumenta o volume. “Temos que descer todos do ônibus! Vamos pedir ao motorista que resolva a situação! É por isso que o Brasil não vai pra frente! Brasileiro não faz nada!”, nos ensina a tupiniquim que está sentada. Ah, essa juventude me comove...