domingo, 13 de setembro de 2009

Clarice

Clarice sentia-se cansada. Cansada da vida que levava. Cansada da vida que inventara pra si. Tinha que sair da cama. O relógio mostrava seis e quinze da manhã. Já passava da hora de levantar. Mas Clarice sentia-se cansada. Não agüentava mais a rotina. Lutava tanto e pra quê? A incerteza era o que a sufocava. Não havia mais o mesmo ânimo, a mesma vontade de sonhar. Tudo parecia tão distante, inalcançável. Ela precisava reagir. Sabia disso. O primeiro passo era sair da cama. Levantar. Mostrava-se um ato tão singelo. Mas ela compreendia o significado oculto do gesto. Era um recomeço. Uma nova chance de tentar. Mas Clarice sentia-se cansada. Todos a apoiavam. Mesmo assim faltava-lhe o maior apoio. Ela mesma. Estava perdida e não se encontrava. Um dia novo a esperava. Podia ser diferente. Quem sabe hoje? As forças se reuniam dentro de si. Ia levantar. Agora. Fraquejara. Mais uma vez. Aquilo era pior do que não tentar. Fracasso, a palavra ecoava em sua mente. Isso ela não podia suportar. Sua maior juíza era ela mesma. Sabia que agora teria que recomeçar. Não seria fácil. Seu limite havia sido alcançado. E Clarice sentia-se cansada. Pensava no que os outros iriam dizer, no que iria acontecer. Não. Isso não importava. O que a consumia era a sua visão de si. A imagem de uma pessoa derrotada passava lentamente como um filme. Clarice sentiu-se com medo. Não gostava desse sentimento. Rezou. A imagem retornava. Misturada com a sensação de perda havia angústia, ansiedade. Não poder controlar o que viria a estava perturbando. Talvez fosse melhor se deixar levar. Não pensar mais nisso. Adiar o quanto fosse possível. Isso mesmo. Resolvera. Não era preciso sofrer desde já. O cansaço ainda existia. Mas Clarice levantou da cama. Era preciso tentar.

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